A obra do nosso tempo
"O ser humano é o vírus" é uma frase que ecoa desde os meses confinados de 2020

Um paladar quase infantil para arte. Fico sempre tomada pela fácil dupla pintura-escultura, raramente saio disso, num dia qualquer de uma cidadezinha sueca - e portanto cinza-chuvosa-melancólica -, entro numa sala escura, uma imagem me captura, a legenda na notícia diz "propaganda climática liberal" e dou risada imediatamente, porque há uma voz solene, masculina, urgente e sensacionalista falando sobre como a tragédia da usina de Chernobyl deu a chance de que a natureza se refizesse.
É claro, o cadáver é sempre vantagem para o verme, o homicídio é sempre oportunidade para a indústria de armas etc.
É aí que o significado implícito das propagandas climáticas tem início: insinuar que a humanidade e a natureza não podem coexistir, como se houvesse uma guerra entre nós. É preciso que um acidente nuclear aniquile a vida humana de uma cidade inteira para que a natureza possa brotar, verde e santificada, entre os escombros de nosso pecado.
"O ser humano é o vírus" é uma frase que ecoa desde os meses confinados de 2020. Esse desejo de morte coletivo, o assassinato do outro que não comove, o neomaltusianismo asqueroso, fascista. O capitalismo tem essa vocação de criar inimigos dentro da categoria ser humano, dividir para conquistar. Não fosse a própria Natureza tratada como algo à parte, exterior e marginal, a Natureza às margens do Homem, um assassino ou uma deusa.
A obra 'Climate Propagandas, Video Study' explora como a crise climática é interpretada e usada como arma em vários discursos ideológicos. Por meio de exemplos de cultura popular e política, desde os documentários sobre a natureza de David Attenborough até a franquia de super-heróis da Marvel, o estudo em vídeo tenta dissecar as realidades conflitantes que cada uma dessas propagandas climáticas traz.

A mais comum, prolífera e aceita é a propaganda climática liberal, que argumenta que o colapso ecológico é responsabilidade de indivíduos humanos, e não de corporações extrativistas.
A propaganda climática conspiracionista afirma que a mudança climática nada mais é do que uma farsa para impor o controle populacional, e a propaganda climática ecofascista usa isso como uma oportunidade para insistir sobre quem, no colapso do ecossistema, tem o direito racial de sobreviver e quem não tem.
Por fim, a propaganda climática libertária considera o colapso climático como um novo recurso para geomercados e colonização interplanetária.
Climate Propagandas, Video Study
Jonas Staal
16:03 min.
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